Quem tem mais dinheiro costuma ter acesso a serviços exclusivos, com assessoria para ajudar nas suas decisões. Com investimentos, não é diferente.
O “family office” é uma dessas estruturas montadas para famílias com muitos recursos, normalmente donas de grandes empresas, e que precisam de uma assessoria completa, que inclua a parte jurídica, contábil, fiscal e de investimentos.
Os bancos estão de olho nos conhecidos “family offices” – gestores de fortunas – desde o começo da década de 1980, mas poucos avaliaram as nuances de trabalhar para famílias ricas, e limitam-se a ofertar os mesmos serviços que ofereceriam a indivíduos endinheirados.
O principal motivo disso, explica David Fox, presidente mundial da divisão de investimentos pessoais na Northern Trust Wealth Management de Chicago, é que os bancos têm buscado apenas assumir a gestão das carteiras de ativos das famílias, em detrimento de oferecer um serviço mais abrangente. “Muitos bancos estão começando só agora a ver o nível de sofisticação dos “family offices” e percebendo que eles precisam oferecer um menu completo de serviços, e não apenas opções de investimentos”, afirma David.
Os “family offices” vêm sofrendo com a falta de experiência operacional de seus serviços de suporte, e os bancos têm feito muito pouco para ajudar nesse aspecto. “Os bancos, inicialmente, não estavam atentos à compreensão das necessidades e consideravam os multifamily offices como concorrentes”, afirma Gerard Aquilina, ex-banqueiro que agora presta assessoria para famílias ricas na América Latina, Europa e Oriente Médio, (…) “Mas eles finalmente acordaram e estão começando a montar equipes especializadas,” complementa.
Os bancos suíços UBS e Credit Suisse estão entre aqueles que buscam melhorar seus serviços para esse segmento crescente. Embora declare estar trabalhando há muito tempo com “family offices”, foi apenas em 2011 que o UBS empreendeu sua primeira iniciativa articulada nesse mercado, consolidando os serviços numa única “plataforma” dedicada e disponível a todas as divisões do banco.
A história é similar no Credit Suisse. “Na última década, o banco respondeu a esse crescimento sem precedentes de riqueza familiar e empresarial criando equipes dedicadas a oferecer serviços de family offices em diferentes regiões”, conta Bernard Fung, chefe de serviços de planejamento de fortunas para a região Ásia-Pacífico no banco.
Warren Thompson, diretor-gerente de private no Coutts, banqueiros da família real britânica, afirma que: “As unidades de private banking estão se relacionando com um número infindável de famílias ricas, cada uma delas com seus próprios objetivos, preocupações, valores e circunstâncias” (…) “Isso garante que as equipes dos bancos estejam constantemente aprendendo com uma grande variedade de clientes” (…) “Com muita frequência, um family office não dispõe dessas ideias novas, de novas experiências e aprendizagem que mantêm a consultoria a par dos desenvolvimentos tecnológico, financeiro, jurídico e contábil.”
Os bancos tendem a ver os “family offices” simplesmente como mais um intermediário, interligando membros de famílias aos fornecedores de produtos, através dos quais podem vender os seus serviços.
Já os “family offices”, o que não é de surpreender, veem os bancos como originadores de produtos tendenciosos, desprovidos de objetividade e independência.
Resumindo, a desconfiança mútua é clara.
Fonte: Valor Online
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